Das ra(e)lações #1

Às vezes digo que em termos sentimentais ficar sózinha, sem companheiro, aos 33 anos, foi das melhores coisas que me aconteceu. Fiquei sózinha sobretudo por escolha minha, após meses a tentar escapar do inevitável, o fim de uma relação que já há muito se adivinhava. Ficar sózinha assusta e era mesmo assim que me sentia, assustada, e assim ía adiando a decisão, por não saber bem como seria a minha vida depois, se me daria bem com o tempo livre que me sobraria. Não estamos a falar de um casamento, apenas de um namoro quase de fins de semana e de férias. Parece simples de terminar, quando vemos que o futuro a dois nos parece cinzento, quando a vontade de progredir na relação desaparece, mas a verdade é que não foi. E ainda bem… porque o fim de qualquer relação séria deve ser bem ponderaado, para evitar duvidas ou "e se's" posteriores.
Quando fiquei sózinha reorganizei a minha vida, ganhei algo que não tinha, que era tempo apenas para mim, passei a cuidar-me mais, a ir ao ginásio, a sair com pessoas diferentes, fui de férias com uma amiga e as nossas filhas e foram das melhores férias que já tive até hoje. E à medida que o tempo passava ía-me convencendo cada vez mais de que assim ficaria, sem namorado, durante muito tempo. Vir a morar com alguém, então, parecia-me algo totalmente impossível de se realizar. parecia-me que a minha realidade doméstica era "eu e a minha filha" e não via forma de isso se poder alterar. Achava que nunca alguém se iria conseguir integrar ali, entre nós as duas. E a verdade é que me sentia feliz. Não sei se assim ficaria, feliz, durante muitos mais meses, muitos mais anos. Não sentia a solidão. Grande parte do tempo tinha a minha filha comigo e a companhia dela bastava-me para me encantar, para me divertir, para me mimar. No tempo em que ela não estava comigo, procurava conviver, divertir-me, cuidar-me. Nada me faltava e continuava a sentir-me uma mulher completa. Mais (muito mais) do que quando me encontrei, noutros momentos, sufocada por relações que já não me faziam feliz.
Foi nesta altura que ele apareceu na minha vida… não o procurei, cheguei quase a "fugir" dele quando as coisas começaram a deixar de parecer uma simples amizade. Mas ele mostrou ser o homem com o qual eu sonhava, e cada passo que davamos me parecia tão certo, tão ajustado, quase tão destinado a ser assim, que se tornou inevitável passar a pensar e a viver a vida a dois.
Poderia não ter sido assim, mas foi. Poderia não ter aparecido ninguém na minha vida, poderia ter aparecido mais um sapo mascarado de principe… mas foi assim que aconteceu.
E o mais engraçado é que ele apareceu na minha vida na altura em que eu percebi que não precisava de um homem para ser feliz. E esta, em termos de relações, foi das principais conclusões a que cheguei até hoje. A felicidade tem que estar em primeiro lugar dentro de nós próprios, nunca mas nunca vem de uma relação, por mais completa que ela seja, por mais "necessária" que ela nos pareça, por mais que a solidão nos assuste. Nenhuma relação será feliz se não tivermos uma boa dose de amor próprio. Como costumo dizer ao J. "eu posso gostar muito de ti, mas gosto ainda mais de mim". E assim é que tem que ser, sempre. Para sempre. Eu não preciso dele, estou com ele porque quero, porque gosto dele e porque ele me faz feliz (acrescentaria a mais feliz das mulheres, mas não é este o propósito deste post).
O propósito é ver miudas, ou mulheres, agarradas a relações tão sem sentido, tão destinadas a fazê-las sofrer, a fracassar, por terem receio de estarem sózinhas. Se elas soubessem como é tão melhor não ter ninguém, ser independente, do que viver uma relação de frustrações… Mas pronto, também já vivi o suficiente para saber que há coisas que só aprendemos por nós próprios, com as nossas próprias cabeçadas… Como eu aprendi até hoje, com as minhas. Mas sempre, em todos os momentos, "gostei mais de mim", e sei que isso me poupou de muito sofrimento.


Até sempre,

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